Kichute - reprodução -
Tinha quem amarrasse os longos cadarços no calcanhar. Outros preferiam passar o cordão por baixo do solado. Independentemente de qual ‘time’ você fazia parte, não tem como negar: o Kichute marcou época.
Popular entre meninos e meninas que gostavam de futebol (ou não) nas décadas de 1970 e 1980, o misto de tênis e chuteira foi um dos grandes sucessos no mercado de calçados brasileiro. Com o tempo, porém, acabou desaparecendo das prateleiras.
Lançado em 15 de julho de 1970 pela Alpargatas, o Kichute surgiu em um momento de euforia com o maior esporte nacional: a seleção brasileira de futebol havia acabado de conquistar o tricampeonato na Copa do Mundo de 70, no México. Propaganda do tênis Kichute com a participação de Zico nos anos 80.
O tênis dividia as atenções com modelos como o Bamba, que voltou recentemente ao varejo, e o Conga. Estava longe de ser dos mais bonitos — era simples, robusto, feito de lona resistente e com solado de borracha com cravos — e ainda era acusado de causar chulé.
Apesar disso, o sucesso foi inegável. Em 1978, ano da Copa do Mundo da Argentina, o Kichute viveu seu auge: foram vendidos mais de 9 milhões de pares, o que correspondia a 10% da população brasileira da época.
O sucesso do tênis era reforçado pela forte publicidade. Se marcas como Adidas e Nike hoje recorrem a Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, a Kichute teve o craque Zico como principal garoto-propaganda.
A diferença é que, até onde consta, Zico nunca a usou profissionalmente.
Mas os anos de ouro do Kichute acabaram.
A abertura econômica e a invasão das marcas internacionais colocaram o Kichute na marca do pênalti.
O calçado perdeu espaço no mercado e nos pés dos consumidores a partir do início dos anos 1990.
Em 1996, a Alpargatas parou de produzir o Kichute para focar em outras marcas, como Havaianas e Topper.
Simultaneamente, chuteiras mais vistosas e coloridas começavam a despontar no mercado, hoje dominado por marcas estrangeiras como Nike e Adidas.
A volta (ou quase) do Kichute
Em 2005, depois de adquirir os direitos da marca junto a Alpargatas, a Vulcabras tentou relançar o calçado. A ideia era apostar na nostalgia do público, mas não deu muito certo.
O Kichute enfrentou a forte concorrência de outras marcas que ofereciam mais variedade, qualidade e tecnologia.
Mais recentemente, em 2022, o Grupo Alexandria anunciou a intenção de relançar o Kichute e comercializá-lo exclusivamente pela internet, sem pontos físicos.
Até o momento, entretanto, isso não ocorreu. O Seu Dinheiro procurou a empresa em busca de informações sobre os planos, mas não obteve resposta até o momento.
De opção em conta a artigo vintage
Engana-se quem acha que, após as tentativas frustradas de relançamento do Kichute, não é mais possível comprá-lo.
O tênis, que no passado se popularizou pelo valor acessível, hoje é encontrado em sites de e-commerce como artigo vintage. Os valores partem de R$ 228 e podem alcançar R$ 381.
Otávio Preto
Formado em Jornalismo pela PUC-SP, atua como repórter no Money Times e no Seu Dinheiro, onde também já trabalhou como analista de mídias sociais, com experiência em produção de conteúdo para diferentes plataformas digitais. Antes disso, foi repórter no site Monitor do Mercado.