IPCA de maio se mostra mais "racional", com melhora nos núcleos e menor difusão; mas serviços ainda preocupam. - Imagem: Divulgação / Montagem Seu Dinheiro
A inflação oficial, medida pelo IPCA, parece estar no caminho do bem: desacelerou de 0,43% em abril para 0,26% em maio, ficando abaixo da expectativa do mercado, de 0,33%, segundo as estimativas compiladas pela Reuters.
No ano, o IPCA acumula alta de 2,75% e, nos últimos doze meses, o índice ficou em 5,32%, abaixo dos 5,53% dos 12 meses imediatamente anteriores. Em maio de 2024, a variação havia sido de 0,46%.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, o item Habitação foi o que apresentou a maior alta no mês, acelerando de 0,14% em abril para 1,19% em maio. O vilão deste grupo foi a energia elétrica, que subiu 3,62% no mês, com a entrada em vigor da bandeira tarifária amarela.
Do lado benigno, se destaca o grupo Alimentação e Bebidas (desaceleração de 0,82% em abril para 0,17% em maio), encerrando uma sequência de oito meses de pressão nos preços dos alimentos.
"Olhando para os próximos meses, esperamos que o grupo alimentação siga bem comportado e contribua para novas leituras baixas para o IPCA em junho e em julho. Entretanto, os números estão sujeitos a alguma volatilidade por conta dos preços de energia", diz, em nota, Flávio Serrano, economista-chefe do BMG, acrescentando que a bandeira tarifária pode subir para Vermelha 2 em julho.
O grupo Saúde e Cuidados Pessoais também viu uma forte desaceleração, de 1,18% em abril para 0,54% em maio, mas ainda teve uma das maiores altas do IPCA.
Dois grupos viram queda de preços no último mês, puxando para baixo o IPCA de maio: o item Transportes recuou 0,37%, puxado pela queda de 11,31% das passagens aéreas e de 0,72% dos combustíveis. O item Artigos de Residência, por sua vez, viu uma queda de 0,27% no mês.
IPCA mais racional?
A dúvida que poderia ficar é se o movimento é racional do tipo que mostra os preços realmente mais comportados ou está mais para o tipo que acredita em seres extraterrestres.
Mas o desempenho qualitativo também se mostrou positivo. O núcleo do IPCA, medida que exclui os itens mais voláteis, como alimentos e energia, desacelerou de 0,5% em abril para 0,3% em maio, o menor valor desde setembro de 2024.
A inflação de serviços, que tanto preocupa o Banco Central nas suas decisões de juros, recuou em todas as principais medidas (desaceleração para 0,18%, enquanto os serviços subjacentes, menos sensíveis à política monetária, desaceleraram de 0,61% para 0,42%).
O índice de difusão, que mede o quanto a inflação está "espalhada" pelas diferentes categorias de produtos e serviços, também apresentou melhora, tendo recuado de 67% em abril para 60% em maio, menor valor desde novembro de 2024.
"O resultado de maio sugere um arrefecimento maior que o esperado da inflação, em linha com o indicado pelo IPCA-15. A inflação de alimentos deve continuar perdendo pressão devido à sazonalidade, enquanto ainda se vê os preços das commodities perdendo força no mercado internacional, o que pode contribuir para novos cortes no preço da gasolina pela Petrobrás. Além disso, dado o aperto monetário, a direção é de arrefecimento na atividade, retirando pressão sobre a inflação de demanda", avalia André Valério, economista sênior do Inter, em nota.
Para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, os pontos positivos de fato são maioria quando se analisa o resultado geral e a maior parte dos grupos.
No entanto, a inflação de serviços ainda demanda "cautela e atenção", por sua resiliente diante do mercado de trabalho apertado, do crescimento da renda média habitual das famílias e de uma mudança gradual nos padrões de consumo.
"Esta mudança torna mais desafiadora a tarefa da política monetária, uma vez que esta nova categoria de serviços não depende tanto de fatores mais diretamente afetados pela política de juros, como o crédito, e sim do nível de renda disponível dos agentes, tornando a suavização do ciclo econômico condição de extrema necessidade para a pavimentação de um caminho mais sólido em termos de desinflação", diz Pizzani, em nota.
Ainda assim, a CM Capital mantém sua visão de que o ciclo de alta nos juros já foi encerrado e que os cortes na Selic devem começar no fim do ano.
A avaliação do Goldman Sachs, por sua vez, ainda demonstra preocupação, principalmente com o núcleo de serviços ainda pressionado. Em nota, o banco diz que a política monetária ainda deve ser conservadora.
O fim do ciclo de alta da Selic está próximo?
A bolsa brasileira recebeu bem a notícia do IPCA mais fraco que o esperado e começou o dia em alta de mais de 1%. Os juros futuros também passaram a recuar forte.
De fato, a inflação abaixo do esperado dá mais tranquilidade para o Banco Central encerrar o ciclo de alta de juros, mas ainda não foi suficiente para o mercado mudar as suas expectativas para a trajetória da Selic neste ano.
De ontem para hoje subiram as apostas do mercado em uma manutenção dos juros já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom), encerrando os ciclo de alta da Selic.
A expectativa de encerramento do ciclo de alta dos juros já no próximo encontro do colegiado ultrapassaram nesta manhã as apostas em uma alta de 0,25 ponto percentual, antes majoritárias
Entre as instituições financeiras, o dado do IPCA de maio não foi suficiente para uma mudança massiva nas apostas para a trajetória da Selic, com muitas delas mantendo sua visão de alta residual de 0,25 ponto percentual.
Quem já acreditava que o ciclo de alta de juros já se encerrou também manteve a sua posição. É o caso do banco Daycoval, que acredita que o resultado do IPCA "vai na direção de fim de ciclo da alta de juros", mas só vê um início de cortes em 2026.